Hoje o texto é bem filosófico.
Queremos vida virtual, beleza virtual, liberdade virtual, amor virtual?
Quando foi a última vez que você presenciou um amanhecer glorioso? Ou permitiu-se ver um pôr do Sol espelhado no oceano?
Como você se sente quando toca a pele de alguém que ama? Avô, pai, pessoa amada ou filho?
Você já viu uma teia de aranha cheia de orvalho e o sol brilha através das gotículas na teia para revelar os diamantes piscando, safiras, rubis e esmeraldas escondidos dentro?
Você já esteve em um ambiente natural, seja qual for, mas longe da correria da cidade e notou aquela estranha e sutil sensação de liberdade que vibra pelo seu corpo?
Você já se encantou com o vento que refresca seu rosto em um dia quente de verão? Ou foi intoxicado pelo cheiro das flores na Primavera?
Você ficou sem palavras diante do nascimento de uma nova vida: um filhote bicando para fora do ovo, uma semente germinando ou um bebê nascendo?
Ou só simplesmente só, fez uma pausa para refletir sobre a magia de estar vivo?
Poderíamos chamar o deleite dessa realidade de presença definitiva, a busca e ação que valoriza a qualidade e não a quantidade, que esta presente em sua totalidade e em todos os espaços de conexão com a vida no aqui e agora.
Uma escolha difícil de manter mesmo sem interferência do Metaverso.
Em contraponto, na desconexão existem os que não conseguem se encantar e a vida no mundo físico material é limitante, dolorosa, assustadora e exigente: algo do qual se busca escapar, com alguma distração que possa entorpecer os sentidos tal como o trabalho em excesso, a televisão que hipnotiza, o jogo que isola, um romance que hiper estimula prazeres imediatos, uma droga que alucina.
Bem, muito em breve, você será capaz de escapar da realidade de forma muito mais eficaz do que os meios primitivos de distração existentes, o seu cérebro não saberá a diferença de vida virtual e vida material e não será mais questionado o que é realidade.
O Metaverso poderá sim ser utilizado como uma ferramenta de fuga.
Lembra-se do diálogo entre o Savage e Mustapha Mond nos últimos capítulos do romance De Aldous Huxley, Admirável Mundo Novo?
“Mas eu não quero conforto. Eu quero Deus, eu quero poesia, eu quero perigo real, eu quero liberdade, eu quero bondade. Eu quero pecado.
“Na verdade”, disse Mustapha Mond, “você está reivindicando o direito de ser infeliz.”
“Tudo bem, então”, disse o Selvagem desafiadoramente, “Estou reivindicando o direito de ser infeliz.”
“Sem mencionar o direito de envelhecer e feio e impotente; o direito de ter sífilis e câncer; o direito de ter muito pouco para comer; o direito de ser péssimo; o direito de viver em constante apreensão do que pode acontecer amanhã; o direito de pegar tifoide; o direito de ser torturado por dores indescritíveis de todos os tipos.
Houve um longo silêncio.
“Eu reivindico todos eles”, disse o Selvagem, finalmente.
Bem, depois de quase cem anos, o futuro descrito por Huxley está quase sobre nós e, se quisermos derrotá-lo, precisamos de muito mais “selvagens” dispostos a renunciar aos prometidos “confortos”.
A escolha é sua.
Eu costumo dizer que um bisturi é uma ferramenta e somente a intenção define a função da ferramenta. Um bisturi na mão de um médico salva vidas, mas na mão de um assassino causa dor e morte.
Mas a pergunta fundamental que devemos nos fazer é simples:
Você conduz ou é conduzido?
O medo pode ser um condutor de fortalecimento da sua coragem ou um reforço para a covardia.
Não é a tecnologia o bicho papão, mas a intenção e a existência de busca pela presença e vida que definirá a função do Metaverso.
O mercado já está vislumbrando um novo modelo social e de econômica se formando.
Recentemente do Fórum Econômico Mundial (WEF) lançou um plano documentado, ‘Defining and Building the Metaverse’, que define parâmetros de uma economia viável, interoperável, segura e inclusiva para o Metaverso. Recomendo estudar no link os detalhes.
Podemos ver a preocupação de conectar essa nova realidade virtual a um propósito material de cuidado com o meio ambiente, relações sociais e estruturas de governanças que preconizam a valorização da vida e sobretudo a segurança do grupo com relação a liberdade do indivíduo.
A WEB3.0, a terceira geração da internet baseada na tecnologia blockchains, apresenta uma característica muito interessante, a descentralização. O que quer dizer, o controle será distribuído e descentralizado, o que pode sugerir não seremos escravos de alguém que supostamente controla e centraliza os dados na proposição de “cuidar da nossa segurança”. Nesse novo modelo teremos que gerenciar, por exemplo, nossas próprias escolhas de conexão em um universo sem origens claras.
Rolou um medinho, neh?
A questão é a seguinte: você não vai escapar de todos esses sentimentos desagradáveis, a característica da vida complexa é a aceitação da vulnerabilidade e a aplicação integral da confiança para formarmos grupos colaborativos em favor da vida.
Acredito na autorregulação do grupo.
O Controle e o Poder têm e terão geralmente propósitos egoísticos e já conhecemos o modelo de centralização.
O Metaverso é na minha perspectiva uma oportunidade de testar a liberdade, de testar a imaginação como um convite ao sonho que poderá se manifestar no nosso mundo material.
Mas a sua intenção fará toda a diferença.
A pergunta que fica é o que você busca?
Em suma, como Neo no filme ‘Matrix’, o uso do Metaverso tera dois caminhos a escolha da Pílula Azul para continuar a viver em um mundo real, material, sintético, pré-formatado e sem presença ou a escolha pela Pílula Vermelha e, neste caso, usar todas as possíveis ferramentas tecnológicas para alcançar através da imaginação e criação de universos mentais a consciência e conexão humana em benefício da vida.